07.12.02 | José Maria Rosa Tesheiner

Sobre a pronúncia do latim

O conhecimento do latim é essencial para o estudo do Direito romano. Sem ele, não se tem acesso às fontes primárias, ficando-se na dependência do fontes de segunda mão. Pode-se, porém, estudar o Direito moderno, sem conhecer o Direito romano, cuja importância diminuiu sensivelmente, sobretudo depois da edição dos primeiros códigos europeus, de Direito Civil e de Processo Civil.Ainda assim, o bacharel em Direito pode interessar-se pela pronúncia do latim, para citar expressão ou aforismo remanescente.Qual, porém, a utilidade do conhecimento da pronúncia exata de uma língua morta que, exatamente por isso, já não é falada, sobrevivendo apenas por seus escritos? Não falta quem afirme a inutilidade, mesmo para quem estude latim, dizendo bastar o conhecimento de sua literatura, independentemente dos sons que a produziram.Mesmo assim, não faltam interessados na pronúncia do latim, que comporta três variantes importantes: a nacional, a eclesiástica e a restaurada.Segundo a primeira variante, pronuncia-se o latim como os escritos na língua nacional, o português, no caso do Brasil. Assim, um brasileiro lerá e dirá: 'omnis Gallia divisa est in partes tres', um inglês dirá: 'omnis Gallia divaisa est in partes tris': um francês invariavelmente colocará o acênto tônico na última sílaba.A pronúncia eclesiástica ou romana lê o latim como um texto escrito em italiano.Há, finalmente, a pronúncia restaurada, que busca falar o latim como teria sido pronunciado pelos autores da época clássica, como Cícero e César, aliás, kíkero e káesar.A pronúncia restaurada é adotada, para mútua compreensão, nos encontros europeus e internacionais.Vejamos suas principais características:Nos ditongos ae e oe, ambas as vogais são pronunciadas. No que diz respeito ao primeiro, continuo a preferir a pronúncia mais fácil, e, como no latim eclesiástico. Aliás, na história do latim, esse ditongo cedo desapareceu, substituído por e. Varrão já observara que o povo dizia Mesium, e não Maesium: 'rustici Mesium dicunt, non Maesium'.As consoantes 'c' e 'g' são sempre guturais, mesmo antes das vogais 'e' e 'i'. Leia-se, portanto, kíkero, em vez de cícero: késar, em vez cezar: agnus, em vez de anhus.O 'h' é pronunciado com leve aspiração.O 'j' tem som de 'i'.O 'r' é sempre brando.O 's' é invariavelmente pronunciado como em 'sim'.A sílaba ti, precedendo vogal, lê-se tal como escrita, donde: grátia, e não, grácia: skientia, e não, ciência.O 'v', consoante precedendo vogal, tem som de 'v', embora haja quem lhe atribua o som de u, que aliás resulta horrível, como em 'uiuo', em vez de 'vivo'.O 'x' soa como 'cs'.O 'y', como o 'u' da língua francesa.O 'z', como 'ds'.Para nós, brasileiros, o que causa mais estranheza é o som gutural do 'c' e do 'g' antes das vogais 'e' e 'i'. A meu ver, porém, a pronúncia reconstituída é a única compatível com as declinações e conjugações. Assim, por exemplo, faz sentido pronunciar-se amikus e amiki, no nominativo e genitivo, respectivamente. Pelo contrário, não faz sentido dizer-se amikus, no nominativo, e amissi ou amitchi, no genitivo, com variação da pronúncia na própria raiz da palavra.(Sobre o assunto: Vido Angelino, De pronuntiatu restituto. http://www.pamparato.com/ima/latino/documenti/testi/angelino/pronuntiatus/pronuntiatus.html, acessado em 3.11.02: http://www.fjal.hpg.ig.com.br/cursodelatim/licao00.htm, acessado em 6.11.02).

TESHEINER, José Maria Rosa Tesheiner. Sobre a pronúncia do latim. Revista Páginas de Direito, Porto Alegre, ano 2, nº 61, 07 de Dezembro de 2002. Disponível em: https://www.paginasdedireito.com.br/artigos/todos-os-artigos/sobre-a-pronuncia-do-latim.html
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Editores: 
José Maria Tesheiner
(Prof. Dir. Proc. Civil PUC-RS Aposentado)

Mariângela Guerreiro Milhoranza da Rocha

Advogada e Professora Universitária

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